04/11/2017

O meio ambiente debaixo do asfalto

 Quando, no início do seu governo, o prefeito Marcello Crivella tomou a desastrosa medida “des-secretariar” o Meio Ambiente fazendo da SMAC um apêndice da secretaria de conservação, ao mesmo tempo que juntava três outras secretarias (Obras, Urbanismo e Habitação) e queria cortar metade dos cargos comissionados, na maioria de servidores concursados,  achei que era um erro de iniciante mal assessorado e que o dia a dia como prefeito  ensinar-lhe-ia o valor das instituições que permanecem enquanto os políticos --mesmo os abençoados pelo reino de Deus-- passam.

Estou fora da política partidária/eleitoral e em relação a prefeitura do Rio procuro exercer um papel crítico construtivo evitando a oposição ruidosa e sistemática, a priori. Torço sempre para que qualquer prefeito do Rio dê certo porque se dá errado quem sofre em primeiro lugar  é a cidade onde vivo e que amo.  

 Por isso estive sempre aberto ao diálogo embora não tenha votado nem jamais votaria nele para prefeito. Também não teria votado no seu adversário mais pela forma com que conduziu sua campanha (com outra postura poderia ter votado). Na realidade estava em Marakech, na COP 22 quando daquele desafortunado segundo turno. 

Após as eleições me dispus a dialogar, fazer algumas sugestões e ajudar algumas pessoas decentes que aceitaram a difícil missão de tentar fazer alguma coisa positiva nessa administração. Há gente respeitável como Aspásia Camargo, César Benjamin, Verena Andreata e  Paulo Amendola,  tentando fazer coisas boas. Tive rápidos e cordiais contatos com o prefeito e pessoas próximas a ele. Não desgosto dele como ser humano. Como prefeito, no entanto, parece-me um alienígena em relação ao que é essa Cidade. 

 Não se governa o Rio, sobretudo, nesses tempos difíceis de forma tacanha e moncordiamente assistencialista. Desde 1989 o Rio teve prefeitos entre o bom e o regular e sempre com alguma visão. Marcello Alencar tirou a Cidade de uma crise do tipo em que estamos mergulhando agora, César Maia,  no seu primeiro governo e na maior parte do segundo foi um prefeito competente e inovador, perdeu o rumo no final; Conde teve bons dois anos iniciais, Eduardo Paes com seus defeitos e erros foi globalmente um bom prefeito, dinâmico e trabalhador.  Crivella parece um OVNI no universo carioca a frente de uma gestão desconjuntada e confusa.

Agora decidiu rebaixar mais ainda a finada SMAC. Transformou-a numa coordenaria da Conservação com poderes e atribuições erodidas. O Rio foi uma das primeiras cidades brasileiras a se dotar de uma secretaria de meio ambiente e ela, por um bom tempo, foi referência internacional. Éramos avidamente escutados e admirados em foros dentro e fora do Brasil.

A SMAC iniciou um trabalho sistemático de despoluição das praias e lagoas do Rio (que depois foi desmembrada o para formar a Rio Águas subordinada a SMO, um primeiro retrocesso). Construiu as ciclovias cariocas a primeira e maior malha do país. Promoveu o reflorestamento de dezenas de morros com a mão de obra das favelas, criando oportunidades de trabalho e consciência ecológica no Projeto Mutirão de Reflorestamento que foi internacionalmente  consagrado. Combateu implacavelmente as agressões ao meio ambiente. Implantou novas áreas e proteção ambiental e diversos novos parques.

 Escrevi no meu livro Ecologia Urbana e Poder Local que não haveria necessidade de secretariais de meio ambiente em prefeituras nas quais o conjunto dos órgãos funcionasse na lógica da sustentabilidade. Esse certamente não é o caso atual, convenhamos. 

Qual a razão então? Francamente, ignoro. Espero que não seja a mesma que levou, nos idos dos anos 90, quando ela foi criada, os vereadores da Universal a se oporem tão duramente a nós. O problema na época era algo ridículo embora sintomático: não admitiam nosso combate à poluição sonora, achavam que iríamos atrás alto falantes que colocavam para o lado de fora dos templos talvez como maneira de punir os tímpanos dos infiéis do bairro por não estarem lá dentro...

 Mereci uns tantos ataques da parte do jornalzinho da Universal que distribuíam. Na época não existiam as redes sociais. Muito tempo depois um daqueles vereadores reconheceu que aquilo fora um exagero e que de fato tentávamos –sem muito sucesso, historicamente falando—debelar todo tipo de ruído acima dos decibéis permitidos.


 Espero que o prefeito possa dialogar com os servidores da SMAC e com os ambientalistas e reveja essa decisão equivocada que além do seu dano direto à gestão ambiental local compromete a imagem da Prefeitura da Cidade nacional e internacionalmente. O Rio de Janeiro é uma referência mundial para o tema ambiental e climático. Uma secretaria de meio ambiente subordinada a rotinas conservação é o meio ambiente na lata de lixo ou debaixo do asfalto. 








          Morro Dois Irmãos, antes e depois,  um dos mais de 40, reflorestado pela SMAC em diversas partes da Cidade
    




     Ciclovia Mané Garrincha,  a primeira do projeto Ciclovia Cariocas. O Rio com a maior malha cicloviária do Brasil

     Bosque da Freguesia, uma luta ambientalista que a SMAC viabilizou

     A SMAC ajudou a formar o GDA (Grupo de Defesa Ambiental da Guarda Municipal)












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