30/08/2016

Considerações de um não-candidato`

   Várias pessoas vêm me perguntando as razões da minha não candidatura a prefeito ou a vereador nessas eleições. Ela tem a ver com minha decisão já em 2014 de não me candidatar à reeleição como deputado federal e a sair da política partidária/eleitoral. As razões são sempre as mesmas ainda que mantenha um vínculo particularmente forte com os temas e problemas de âmbito local.

  O “x” da  questão é não tenho mais disposição para “fazer política” como ela é atualmente no Brasil. Nacional ou local ela depende dos partidos políticos e de um determinado sistema eleitoral que, por sua vez, é condicionado (e  condiciona)  uma cultura política, relações e práticas que depois de quase 30 anos de participação muito ativa me produziram aquele sentimento de que “não dá mais”. Claramente careço de certos atributos necessários a essa praxis. Pode ser uma fase mas é o que sinto hoje.

 Não vou aqui desfiar o rosário de minhas frustrações politico partidárias nem de minhas decepções essa ou aquela pessoa. O fato é que não tenho lugar no atual espectro político e, felizmente,   isso não mais me preocupa ou incomoda. Pelo contrário, tenho participado intensamente de políticas públicas no âmbito local, nacional e internacional e com bons resultados: recentemente contribui ativamente para organizar a campanha do Ratifica Já! que permitiu a ratificação em tempo recorde pelo Brasil do Acordo de Paris sobre o Clima; no ano passado conseguimos inserir o reconhecimento do valor social e econômico da redução de carbono na Decisão de Paris (parágrafo 108),  tenho influenciado decisões diversas nacionais e locais e vejo projetos que iniciei como as ciclovias, os reflorestamentos de encostas pela cidade, a revitalização da área portuária frutificarem e se expandirem para novos patamares. Tudo isso me deixa feliz. Não me incomoda que outros com mais ou menos mérito capitalizem algumas das coisas que iniciei. É da vida, em gestão pública não tem direito autoral.

 No inglês, que é uma língua muito detalhista e precisa, há uma distinção entre “policies” (políticas públicas) e “politics” (política partidária e eleitoral). Digamos que me sinto em paz, realizado e plenamente partícipe das policies ainda que frustrado, inconformado e, francamente, enojado pela politics. É claro, objetarão com razão, políticas públicas não conseguem existir sem os espaços de poder que só a política partidária/eleitoral é capaz de oferecer. Concordo e  vivo essa contradição para mim insolúvel no momento.  A contribuição que posso dar atualmente não é mais aquela de disputar tais “espaços” (candidatura, luta interna partidária por poder burocrático) mas o de contribuir para a formação de lideranças jovens, em todos os partidos e para construção de programas de sustentabilidade oferecidos a todos candidatos. Como diz o Jorge Castañeda no seu livro de memórias dos tempos de governo no México que li recentemente: “passou a bola embora não o jogador”.

 O atual sistema eleitoral brasileiro e a sua cultura política produziram agremiações que vão do grotesco ao patético. Em quase todas elas,  no entanto,   encontramos  pessoas do bem portadoras de espírito público e boas intenções (em geral com poder limitado). Com um leque delas agora posso interagir livremente e compartilhar minhas experiências e ideias.

 A situação política brasileira é hoje muito preocupante dado o grau de frustração, rancor e polarização vigentes. No mundo todo há uma ascensão preocupante da intolerância. Nossos problemas não vão se resolver rapidamente e, a curto prazo, podem até mesmo se agravar. Confio, no entanto, que uma nova geração irá se formar e que ela terá a chance de ser bom sucedida lá onde tenhamos sido bloqueados e/ou fracassado.  

 A cidade do Rio de Janeiro, pela qual me apaixono ontem, hoje e sempre continua a ser meu maior objeto de atenção. No momento a melhor contribuição que posso dar como não-candidato é ajudar na formação de quem o deseje e numa construção programática no campo da sustentabilidade. Nossa cidade vem de um momento especial e vai enfrenar um outro não menos. Existe um legado positivo e outro –agravado pela crise—que é preocupante e traz consigo riscos consideráveis. A hora é de humildade, seriedade, solidariedade, diálogo e entendimentos mínimos para evitar alguns riscos que são potencialmente muito graves,  haja visto o que sucede no âmbito estadual e que afeta profundamente a Cidade.  

 Nesse momento, caros amigos (as)  não estou na arena eleitoral mas certamente disposto a continuar contribuindo com a energia, o entusiasmo  e a criatividade de sempre.  Oportunamente irei me posicionar em relação as opções que temos no Rio.  Continuo acreditando que o sentido da política é:  “organizar as pessoas para melhorar as coisas” portanto diria, em bom carioquês: tamos aí!


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