Violinos

"O poder é como um violino, se toma com a esquerda e toca com a direita" é um dito espanhol que parece se encaixar no atual figurino de Dilma. Desqualificou Marina e Aécio quando defendiam o equilíbrio fiscal, uma correção de rumo na operação Tesouro-BNDES-Eikes da vida e outras questões relativos a evidentes erros e abusos cometidos por esse governo. Findas as eleições, vencidas em parte pelas grosseiras manipulações e gastança do governo (e em parte pela incompetência das oposições) eis que Dilma não só faz o que acusava as oposições de quererem fazer como faz o que elas certamente não fariam em matéria de conluio com a "direita". 

 Concordo com a indicação do Joaquim Levi para o ministério da Fazenda e com a noção de que se faz necessário como em 2003 um "freio de arrumação" fiscal. Já a Katia Abreu na Agricultura é um exagero, para mantermos um tom cordato. Não demonizo a Katia e sou perfeitamente capaz de dialogar com ela, notadamente em relação a agricultura de baixo carbono onde encontramos alguns pontos de convergência. Acho também que está evoluindo pouco a pouco mas é difícil apagar o peso político de diversas posições que ela tomou ao longo dos últimos anos na tanto na questão ambiental quanto na social. Há no próprio campo do agrobusiness quadros com uma visão mais avançada e sem esse lastro um tanto quanto reacionário, convenhamos. Espero que evolua.

 Onde o negocio do governo torna-se de fato escandaloso é na tentativa de rever a LDO para driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal estuprada durante a campanha eleitoral com uma gastança sem tamanho (90 bi). Sobretudo no nordeste houve um derrame impressionante de gastos: milhões de cisternas, a política da bica-d'agua ao extremo em pleno século XXI. Não dá para mudar a lei a posteriori de seu descumprimento para fugir à responsabilidade de tudo que se fez para ganhar uma eleição a qualquer preço. 

 Não sou daqueles deputados que querem promover uma oposição raivosa e sistemática, muito menos alimentar delírios golpistas. As eleições terminaram, vamos encarar quatro anos de Dilma e torcer e trabalhar para que em 2018 haja uma alternativa  bem preparada e eficaz para vencer e governar. No entretempo democracia pressupõe diálogo e não sou favorável a tentar boicotar ou paralisar o governo pois quem sofreria com isso é o povo.  

 Mas isso de querer promover esse casuismo escandaloso com a LDO é intolerável. "No pasarán" é a outra expressão espanhola que cabe aqui. "Nem que a vaca tussa" é a nossa...