03/06/2014

Incongruências

 Ontem acabei desabafando com o Cassio Bruno que hoje publicou uma matéria em O Globo que no geral reflete corretamente minha preocupação. Mas em apenas duas aspas não deu para descrever com precisão qual minha análise de uma situação que descrevi como  “bizarra”, no sentido antigo da palavra.

 O Rio é fundamental para qualquer chance de vitória da chapa Eduardo-Marina. Embora ela tenha tido uma grande votação, em 2010,  numa parceria com a candidatura de Gabeira ao governo  --no que pese o duplo palanque com Serra, onde, ao contrário das previsões, foi ela que se deu bem--   isso não é automaticamente transferível para Eduardo.  Dilma e a Aécio são fortes no estado. Este tem grande familiaridade com o Rio. Eduardo precisa superar importantes obstáculos.

 O eleitorado inicial, potencial,   dele seria o contingente de classe média moderna sensibilizada pelas candidaturas de Gabeira em 2008 e 2010. Marina teve além desse voto também o de mulheres pobres, evangélicas, das zonas norte, oeste do Rio e da  baixada fluminense mas esse contingente popular é de transferência ainda mais complexa.

 A candidatura do Miro não abre as portas, pelo menos num primeiro momento, para esse eleitorado que votou no Gabeira. É um político tradicional embora decente, do bem. Coordenei a campanha de Marina, no Rio, em 2010,  e penso que seria mais talhado como interlocutor deste eleitorado. Campos entendeu, sem consulta com as bases do PSB e sem levar em conta suas lideranças locais --que discutiam outros nomes também como o do Vladimir--  que o melhor seria lançar a pre candidatura do Miro.  Essa decisão é,  curiosamente,  atribuída à Marina...

Isso já foi há três meses. Fui instado a congelar minha pre candidatura que de todas maneira era hipotética e condicionada a circunstâncias política e condições logísticas que não se verificaram. Congelei-a e fiz o que queriam: fiquei quieto.

 Ocorre que nada sucedeu na pre candidatura de Miro. Nenhuma iniciativa. Nenhum movimento a não ser intermináveis articulações para obrigar o PSB a viabilizar candidatos a deputado do PROS às suas expensas. Isso sem falar naquela dúvida que continua e continuará a pairar até o último momento: será que esses arautos do fair play no PT/Planalto irão permitir que um partido da base do governo, dono de um dos 39  ministério ministérios da Dilma, forneça o palanque estadual a Eduardo Campos, logo no Rio de Janeiro? Pode até ser que sim, em política já vi acontecer de tudo, mas, convenhamos, não deixa de ser meio bizarro apostar todas as fichas nisso.

 Por outro lado, é altamente preocupante a questão da futura representação federal do PSB. Ganhando ou perdendo Eduardo precisaria contar com uma banca expandida mas isso é no momento parece a quadratura do círculo. A tendência pelas circunstâncias em diversos estados como RS,MG,SP e o próprio Rio é uma perda significativa e ninguém parece se preocupar com isso. Detalhe: ano que vem entra em vigor uma nova regra reduzindo o tempo de TV igual para todos, que hoje corresponde a um terço do total, a menos de metade. O tempo de TV devido ao número de deputados federais eleitos torna-se crucial para qualquer campanha futura. 


 Essas questões deveriam ser ao menos debatidos mas o processo, até o momento,  anda vertical ao extremo. Somos um time que ataca com coragem (Eduardo é bom nisso) mas anda descuidando do meio de campo e da defesa. Em copas do mundo anteriores  já vimos onde isso vai dar.

Um comentário:

  1. Acho uma incongruência alguém com a sua História não ser lançado como candidato ao governo do Rio

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