16/01/2014

Manobras pré-pré-eleitorais

Voltei de Cuba (conto depois) e estou retomando contatos em ritmo de verão carioca 40 graus. Janeiro é costumeiramente um mês morto politicamente falando. Tenho uma certa pena dos jornalistas das editorias de política que não saíram de férias e são obrigados a cumprir pautas prospectivas para a campanha de 2014. Nada de significativo vai acontecer nas próximas duas semanas mas é preciso todos os dias preparar matéria e quando os fatos não ajudam --pois não ocorrem-- como fazer?

 Essa situação é classicamente propícia para o que chamaria de pautas auto-induzidas e cacoetes de cobertura. A pauta auto-induzida é quando a partir do nosso achismo ou capacidade especulativa jornalística criamos um paradigma ou um conceito e buscamos as aspas dos personagens políticos para lhe dar vida. Na crônica política isso é muito frequente sobretudo quando, como dizem os hispanos, no passa nada.

 Um fenômeno desse tipo ocorre com a aliança Eduardo Campos x Marina. A pauta auto-induzida é dupla: 1) A aliança fatalmente vai entrar em crise  2) Terá que haver um “gambito” ou um enroque de candidatos por força das pesquisas.

  A realidade é que qualquer aliança sempre apresenta algum tipo de problema pendente ou tensão.  Como se diria antigamente, “até aí morreu Neves”. As diferenças para serem de fato suculentas jornalisticamente falando têm que estar no limiar da ruptura. Se estão muito longe disso e se são suplantadas por convergências –como é a realidade nesse caso-- então perde a graça. Passam a ter que ser artificialmente infladas. 

 Caso típico disso é a situação de São Paulo. Criou-se uma versão de que uma candidatura própria ao governo do estado, vinculada à chapa presidencial Eduardo-Marina é uma “exigência” quando não um “ultimato” de Marina ou da Rede, contrariando a vontade da cúpula do PSB paulista que deseja apoiar a reeleição do governador Geraldo Alkmin,  desde o primeiro turno. Obviamente essa ideia não agrada Marina e seus aliados. Mas esse não é o “x” do problema.

 O problema central é que o apoio aos tucanos paulistas, no poder há tantos anos, desde o primeiro turno, simplesmente  não é compatível com uma candidatura que precisa se firmar e suplantar --ainda que gentilmente--  a tucana de Aécio Neves.

  Nem sempre o chamado “palanque duplo” é inviável.  Por força das circunstâncias da política brasileira ele as vezes acontece. Na eleição passada no Rio de Janeiro o candidato a governador Fernando Gabeira acolheu no seu palanque tanto Marina quanto Serra. Durante praticamente toda a campanha a mídia apresentou isso como um estorvo para Marina mas, afinal, ficou provado que não: ela teve mais votos que Serra, no Rio. Pode se dizer que naquele caso ele (o palanque duplo) foi administrado civilizadamente e com conflitos minimalistas.

 Mas o palanque duplo fica inviável quando compartilhado entre poder e oposição ou quando obriga um dos polos a um grau de contorcionismo político que colida com sua identidade política primordial e/ou traga um inevitável desgaste e apequenamento. Penso que é possível eventualmente compartilhar palanques em certos estados  com tucanos, mas não nesse caso.

 A identidade política primordial da candidatura de Eduardo Campos é, da mesma forma que Marina,  sua condição de participe crítico da experiência de governo que iniciou-se em 2002 e que se posiciona não como oposição sistemática mas como uma visão crítica da derrapagem petista na direção de uma política cada vez mais fisiológica,  de sua obsessão por reter o poder a qualquer preço, de sua aliança com os “grotões” e  de sua mediocridade de gestão. A chance de vitória maior de Eduardo Campos/Marina Silva reside no fato de que num eventual segundo turno poderia fazer o pleno dos votos de Aécio enquanto a recíproca não parece ser simetricamente verdadeira pela rejeição ao tucanato em uma parte do nosso eleitorado potencial.

 De qualquer maneira a questão crucial é essa: chegar ao segundo turno! Para tanto o que ajuda mais no primeiro: um candidato afim no estado mais importante ou, desde o primeiro turno,  uma conformidade com o continuísmo tucano que naturalmente carreia votos para Aécio?

  Longe de ser uma “imposição” de Marina a candidatura própria em São Paulo é um elemento vital para dar uma chance de segundo turno e de vitória para Eduardo Campos. É  uma questão sua de viabilização como candidato competitivo. Nesse sentido cabe armar-se de infinita paciência pois nessas situações as soluções coerentes acabam prevalecendo no tempo pela força dos fatos. Como dizem os franceses: chassez le naturel il revient à galope (enxote o que é natural, ele voltará à galope).

  Quem seria o melhor nome é uma outra discussão. Pessoalmente acredito que o “melhor palanque” em SP seria o vereador Ricardo Young que representa uma vertente nova ligada à sustentabilidade, tem simpatias no meio empresarial mais moderno do estado, apoio dos ambientalistas e uma boa inserção na mídia. Parece que o problema seria o seu partido, o PPS, o que é meio incompreensível se desejam de fato apoiar Eduardo e querem eleger seus próprios candidatos proporcionais. 

 Se eu tivesse –não tenho—alguma influência esse seria o meu favorito. Fique claro que trata-se de uma opinião exclusivamente pessoal. Há vários outros candidatos plausíveis no PSB, no PPS e inclusive no PV que caberia atrair para essa aliança. Atrelar-se ao atual governador de SP, desde o primeiro turno,  é um erro sob qualquer ponto de vista que nada tem a ver com supostas divergências entre PSB e Rede. É  divergência com o bom senso e colisão com aquilo que Nelson Rodrigues chaava de "óbvio e ululante”.

 Quanto ao “gambito” ou “enroque” é o sonho de uma tarde (noite seria exagero) de verão. Primeiro, em relação à próprias pesquisas. A primeira que conta é  de uma semana depois do início do programa de TV, em agosto. Até lá é tudo artificialismo + manipulação. Numa memorável coluna Ricardo Noblat mostrou claramente a desproporção abissal entre a exposição da presidente e de qualquer outro candidato enquanto a campanha não se instalar na sua plenitude. Confesso que torço para  Dilma continuar “boladona”  nessas pesquisas. Adivinhem por que...

 Nesse momento elas registram principalmente “recall”:  conhecimento, familiaridade. No mais, quando Marina optou por juntar-se a Eduardo Campos e não filiar-se a um dos diversos partidos que lhe oferecia “legenda” para uma candidatura presidencial ela tomou uma decisão que possui sua linha de coerência óbvia.

 Claro, se eu fosse um dos estrategistas das redes sociais situacionistas exploraria taticamente essa fissura como forma de criar embaraços e fazer o adversário ficar perdendo tempo, se explicando. Estão no seu papel. Apenas isso. Aos que o fazem a partir do nosso campo é uma ingenuidade do tipo romântico. Perdoa-se. Eventualmente essa onda vai crescer até porque o situacionismo sabe que independente de qualquer pesquisa, hoje, o candidato mais perigosos num segundo turno sempre será ele. Aqui lidamos com as pesquisas não como termômetro objetivo de uma situação de momento mas arma subjetiva de arrumação prévia do campo de batalha eleitoral.


  E o Rio? Tenho notado com curiosidade essas notinhas referindo-se a minha modesta pessoa. Não faço ideia de quem as esteja a planta-las. Certamente não eu.  A realidade é que até agora não tive nenhuma conversa a respeito nem com Eduardo nem com Marina o que remete as ditas cujas a um universo especulativo,  prospectivo.

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