26/08/2013

O enroque boliviano


 O diplomata Eduardo Saboia deveria na verdade ser condecorado. E o ex-chanceler Antonio Pariota, caso tenha sabido com antecedência, também. A condecoração poderia ter sido secreta para não agitar o chauvinismo boliviano. O assunto poderia ter sido tratado por Dilma, digamos, diplomaticamente. 

 Ela deveria ter engolido o sapo e  deixado no ar um clima de mistério. Quem sabe a ação que salvou do desespero um refugiado político não teria sido comandada clandestinamente pela própria companheira Dilma? Quem sabe? 

 Teria sido uma solução politicamente melhor do que aproveitar o episódio de pretexto para detonar um chanceler que a irritava por não ter o teor de mediocridade que se exige para ser ministro (a) no seu governo.

 Mas se estivesse de fato tão irritada com a falta de controle de Patriota sobre seus subordinados não teria recorrido ao “enroque” permutando-o com nosso embaixador na ONU, Luís Alberto Figueiredo. Iria demiti-lo e ponto final.

 Tudo isso fica com um certo cheiro de farsa e  pega mal para o Brasil, apequena nossa estatura internacional. Um ministro de relações exteriores do Brasil não pode cair porque um presidente boliviano ficou aborrecido.  Aborrecidos devíamos estar nosotros brasileños com o comportamento inaceitável de Evo Morales de recusar a mais de 400 dias o salvo conduto ao senador Roger Pinto, seu adversário político, desrespeitando a regra e a tradição latino-americana do asilo diplomático. 

 O comportamento de dois pesos e duas medidas salta aos olhos quando vemos o precedente de Honduras. Fica mal para Dilma que um chanceler brasileiro caia por ter a chateado Evo Morales.

 Frequentemente o governo brasileiro reage com absoluta passividade aos arroubos adolescentes de nossos vizinhos “enfant terrible” assim foi com Chavez e continua sendo com  Morales, Christina Kirshner e demais bolivarianos. Até se entende, por vezes, que seja assim e, nome de interesses econômicos, estratégicos e uma visão mais de longo prazo. 

 Mas demitir um ministro de relações exteriores internacionalmente respeitado e bem preparado porque um subordinado seu em uma das quase duzentas representações diplomáticas brasileiras corajosamente enfrentou um drama humanitário e irritou a um regime populista semi-autoritário, é de fato demais.

 O enroque (ou gambito?) boliviano ainda vai dar panos para as mangas e promete perseguir a rainha em suas andanças pelo tabuleiro de xadrez.

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